Muitas vezes me pergunto a razão pela qual publico estes trabalhos inacabados do mestre???
Na ultima fase da sua produção artística , não sei se pelo contacto com a doença, os trabalhos são muito mais críticos . Se no principio Karapytto transmite o real, o belo, aquilo que de melhor a natureza nos deu, nesta ultima fase há quase como que um questionamento da vida. Verifica-se aqui um trabalho mais profundo, onde o mestre desnuda a sua alma de uma forma subtil, deveras criativa. Atrevo-me a dizer que esta é uma das suas melhores fases, infelizmente tanto este como o trabalho publicado anteriormente (onde está a cabeça no centro) são obras inacabadas.
Se hoje fosse vivo como seria a sua pintura, os seus poemas? Foi uma partida da vida que levou este artista no momento de maior expressividade da sua obra, e nós ficamos mais pobres...
Apreciem estes pormenores! arvore da vida, pé na cova, calice de sangue, corações ceifados, embrião no ventre materno, a lua , o sol, etc, etc... digam-me o que vos parece.
A exposição de pintura na casa do povo era embelezada com versos, tal como já devem ter reparado nas fotos anteriores.
Aqui transcrevo mais duas quadras. Embora sem titulo, facilmente se percebe o que se passava na alma daquele homem enquanto esperava na Guiné pela sua cara metade.
s/ titulo
Perdoa amor meu, se amor te chamo,
Porque te adoro como a ser divino,
perdoa pelo muito que a penar te amo.
Perdoa porque amando, a penar me fino.
Na tua boca pequenina de recorte fino,
Em geito brando de flor mimosa,
Há um sorriso eterno, um falar divino,
A beleza e graça de um botão de rosa.
F.KARAPYTTO
PLATÓNICO
Curvado e humilde servo teu,
Com ternura desvelada,
Bendigo o amor que nasceu,
Em hora sagrada.
No segredo da minh’alma,
Em mar tenebroso a calma,
Surgiu por encanto.
Tolda meus olhos pranto
Chorando por ti,
Chorando.
Aqui,
Nesta Guiné ardente,
Onde o ar é pesado
E o sol mais quente,
Oh! Que saudades, ente querido,
Que saudades eu tenho de ti…
Como se já te houvera tido
E pensar que te perdi.
F. KARAPYTTO
Para aqueles que vieram de África , e deixaram lá a base da sua vida, voltar à " metrópole " e recomeçar foi um grande acto de heroísmo.
O português sempre foi mestre no "desenrasque" e quando a vontade de criar impera, tudo serve para realizar obra, assim foi com Karapytto .
A tela era cara e comprava-se o pano, colava-se em madeira compactada e quando não havia tela, karapytto usava papel colado na madeira. Azulejos e vidro tudo servia de base e assim apareceram estas pequenas grandes obras.
O meu muitíssimo obrigado pela pronta, e muito bonita resposta, ao meu pedido.
Estou maravilhado com a pintura de Céu campos que tomei a liberdade de copiar.
Peço a todos que visitem o blog "Arestas de Vento" e vejam as belas e emocionantes palavras sobre o mestre.
As telas representadas atrás do mestre são de trabalhos dele? Aquela que tem a fiadeira é, de acordo com a sua esposa uma das mais belas que o seu marido pintou. Alguém sabe dela ou tem foto para partilhar? adorava ver de perto essa obra.
Mais uma vez o meu muito obrigado ao Ricardo Cardoso e à Céu Campos. Ó Céu desculpe a minha liberdade em copiar para aqui a sua obra, mas adorei, simplesmente adorei...
Homenagem a mestre Francisco Karapytto / Pintura de Céu Campos/ Couço/ Ano 1985
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